Cada vez mais usuários nas redes procuram desbanalizar o uso do termo e trazer atenção aos sintomas reais desse distúrbio.
O senso comum de que a compulsão alimentar se caracteriza como o simples ato de “comer mais do que deve” ao longo do dia é falso e bastante ultrapassado.Não só isso, como também ajuda a descaracterizar um distúrbio que afeta aproximadamente 4,7% da população brasileira em 2020, de acordo com uma pesquisa feita pela OMS.
Nesse sentido, é essencial entender como esse transtorno ocorre de fato para que seja possível evitar a desinformação e conseguir ajudar as pessoas afetadas com o tratamento apropriado.
O que é compulsão alimentar?
Podemos caracterizar o Transtorno de Compulsão Alimentar pela perda de controle seguida de um consumo de grandes quantidades de comida em um curto período de tempo e depois um arrependimento profundo surge.A diferença desse distúrbio para um dia específico em que se come demais é que ele acontece de forma repetitiva. Não só isso, como também é acompanhado de outros vários fatores geralmente ligados com o próprio estado psicológico que a pessoa se encontra.
Nessa perspectiva, é preciso entender que a compulsão alimentar pode ser um “mecanismo de defesa” que uma pessoa encontra para lidar com comorbidades que ela já enfrentava. Servem de exemplo transtornos de ansiedade e depressão, assim como a bulimia.
Assim, é possível perceber que esse distúrbio é acompanhado de fatores prévios que influenciam em algum nível na ausência de controle que a pessoa irá sentir diante dos alimentos.
“[A compulsão alimentar] nasce a partir de uma restrição de comida severa ou um trauma muito forte”, afirma a nutricionista e influenciadora Daiana Parisato em um vídeo para o seu Instagram. “A compulsão te manda comer o máximo que puder no menor tempo possível”, Parisato reforça no mesmo vídeo. A influenciadora fez o vídeo exatamente com o intuito de combater a banalização do termo e trazer atenção aos motivos que levam alguém a sofrer por esse distúrbio.
Dessa forma, sugerir que a pessoa “simplesmente pare de comer” ou “é só fazer alguma dieta” é tão ofensivo e desanimador quanto dizer para uma pessoa com depressão que ela “apenas precisa se animar”. Em ambos os casos, a culpa que a pessoa sente só se intensificará e isso não terá efeitos práticos para que a pessoa melhore.
Consequentemente, mais e mais memórias negativas relacionadas a si mesmo serão criadas e o ciclo se repetirá. Não é exatamente fácil ajudar uma pessoa que passa por isso, mas é extremamente fácil piorar a situação dela por meio de comentários como esse.
Outro ponto a ser considerado é que a compulsão alimentar não está necessariamente relacionada à fome e prazer. Mesmo com a sensação de saciedade “alcançada”, o ato de comer prossegue de forma rápida e em grande quantidade.
É preciso considerar até mesmo a possibilidade de a pessoa passar mal logo depois. Portanto, isso demonstra o quão desesperado e ao mesmo tempo dependente o psicológico de alguém se encontra em uma situação como essa.
Quanto ao tratamento
Além de propriamente procurar alternativas para lidar com os gatilhos que surgirem, como exercícios físicos, o ponto-chave para combater a compulsão alimentar é a reeducação alimentar.
ão se trata de procurar se alimentar menos que o necessário a partir de dietas, por exemplo. “Tenta-se adequar alimentos de valor calórico corretos e horários de refeição também corretos”, afirmou o médico Alexandre Azevedo em entrevista com o Drauzio Varella.
“O tratamento psicoterápico cognitivo-comportamental ajuda a desenvolver comportamentos que previnem o aparecimento desses episódios” foi a resposta de Azevedo quando perguntado sobre o contexto da reeducação não funcionar.
É imprescindível reforçar que, em ambos os casos, é preciso estar acompanhado de um profissional capaz de recomendar o processo correto para a reeducação.
Assim como é preciso procurar um psicólogo capacitado no caso de isso não funcionar. Ademais, ainda que o tratamento psicoterápico não funcione, Azevedo considera a possibilidade de medicações.
Dessa forma, com o tratamento adequado e com o apoio que for possível de amigos e família, esse consumo impulsivo de alimentos diversos diminuirá. Não só isso, como novas formas mais saudáveis de lidar com a ansiedade, por exemplo, podem ser descobertas nesse processo.
É preciso aproveitar toda e qualquer oportunidade para desconstruir o que temos por “compulsão alimentar” para que esse distúrbio seja tratado com seriedade e as pessoas que passam por isso recebam o respeito e tratamento que precisam assim que os primeiros sinais surgirem.